A Reforma Tributária, maior atualização fiscal do país, surge com o objetivo de alterar o sistema tributário. Uma das principais mudanças previstas na medida é a substituição dos cinco principais impostos sobre o consumo por um modelo de Imposto sobre Valor Agregado, no formato IVA Dual.

A regulamentação da nova legislação referente a tributação nacional foi sancionada no começo de 2025 e sua transição ocorrerá entre 2026 e 2033. Durante esse período, as novas regras serão implementadas gradualmente até que sejam aplicadas integralmente ao fim do processo de modificação. 

O mercado e os seus setores já estão analisando e se planejando para a Reforma Tributária. Nesse artigo, trazemos o cenário em que se encontram os principais setores, como as mudanças impactam as empresas e como as mesmas estão se preparando para essa transição.

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  • Neste artigo você vai ver:

O que muda com a Reforma Tributária

A principal mudança da Reforma é a substituição dos atuais tributos sobre o consumo (PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS) por dois novos tributos:

🔹 CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços) – de competência federal
🔹 IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) – compartilhado entre estados e municípios

Esses dois tributos formam o chamado IVA Dual (Imposto sobre Valor Agregado), um modelo inspirado em práticas internacionais que busca simplificar o processo, reduzir a complexidade e aumentar a transparência.

Além disso, a medida promete criar o Imposto Seletivo (IS), o Imposto do Pecado, que incide sobre produtos nocivos à saúde ou ao meio ambiente, como bebidas alcoólicas, cigarros e veículos poluentes. Também incluída na proposta da Reforma Tributária, a nova cesta básica nacional terá isenção dos tributos de insumos como arroz, café, carnes e pão francês.

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🟢 Setores que tendem a ganhar

Como toda transformação colocada em prática, alguns setores tendem a colher mais benefícios. Com a Reforma, empresas que hoje enfrentam alta complexidade operacional, regimes cumulativos ou insegurança jurídica devem encontrar um cenário mais estável e previsível nos próximos anos.

Os ganhos com o novo modelo tributário vão além da simplificação burocrática. Alguns setores devem ser favorecidos por alíquotas mais equilibradas, incentivos estratégicos e um ambiente de maior previsibilidade e transparência fiscal. Nesse cenário, quem se antecipa e se adapta desde já não apenas conquista vantagem sobre a concorrência, mas cria oportunidade para crescer de forma sustentável nos próximos anos.

Abaixo listamos alguns dos principais setores que serão beneficiados com a implementação da Reforma Tributária.

Exportação

Atualmente, muitos exportadores enfrentam dificuldades para recuperar créditos tributários acumulados ao longo da cadeia produtiva. Com a Reforma, a desoneração das exportações será automática, evitando distorções e melhorando o fluxo de caixa das empresas. Além disso, a indústria nacional tende a ganhar competitividade diante da eliminação de tributos cumulativos e da maior transparência no sistema, tornando os produtos brasileiros mais atrativos tanto no mercado interno quanto no externo.

Indústria (cadeias longas de produção) 

Indústrias como a automobilística, têxtil e de eletrodomésticos possuem cadeias produtivas complexas e extensas. Hoje, cada fase dessa cadeia paga tributos que muitas vezes não são totalmente recuperáveis, resultando no chamado “efeito cascata”. A Reforma Tributária, ao adotar o modelo de Imposto sobre Valor Agregado (IVA), elimina esse efeito e permite que o imposto seja cobrado apenas sobre o valor agregado em cada etapa. Isso reduz o custo final do produto, aumenta a eficiência da produção e torna o processo mais transparente.

Além do fim da tributação em cascata e da redução da carga tributária, a indústria deverá ganhar fôlego em diversas frentes estratégicas.

A simplificação do sistema contribui diretamente para a diminuição de custos operacionais, facilitando o dia a dia das empresas e possibilitando um planejamento antecipado de novas ações. Esse cenário também destaca a segurança jurídica e a previsibilidade, fatores cruciais para o crescimento a longo prazo.

A competitividade da indústria, tanto no mercado interno quanto no externo, tende a crescer com a padronização de alíquotas e a isonomia entre setores. Com isso, o Brasil se torna mais atrativo para investidores — o que pode impulsionar a geração de empregos e o aumento da renda no país.

Transporte 

O setor de transportes tende a se beneficiar com a Reforma Tributária. Um dos principais avanços é a ampliação da isenção tributária para o transporte público de passageiros. No mais, a manutenção da isenção de IBS e CBS para o transporte rodoviário urbano garante não apenas a continuidade de benefícios fiscais, mas também fortalece a mobilidade urbana. Além disso, outros modais de transporte coletivo foram contemplados com uma redução de 100% nas alíquotas, tornando o transporte público mais acessível à população.

Outro ponto de destaque é o incentivo indireto aos investimentos em infraestrutura. A Reforma abre espaço para que o setor de transporte de cargas busque melhorias em logística, com mais investimentos em estradas, portos e sistemas integrados.

Por outro lado, um ponto de atenção é a implementação do Imposto Seletivo (IS), que incidirá sobre produtos e atividades consideradas prejudiciais à saúde ou ao meio ambiente. A medida pode encarecer a produção e operação de frotas que ainda dependem desses insumos, exigindo uma transição gradual e um planejamento cuidadoso por parte das empresas do setor. 

🔴 Setores que podem sair prejudicados

Algumas das mudanças da Reforma Tributária trazem consigo desafios complicados para a integridade e rotina das empresas. Nesse trecho separamos alguns dos principais setores que podem ser prejudicados com a chegada de novos impostos, reduções de incentivos fiscais e aumento das alíquotas.

Prestadores de serviços

Com o novo modelo, surge um ponto de inflexão para os prestadores de serviço no Brasil. Isso porque, com a unificação de tributos e a criação do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), muitos serviços que hoje são tributados com alíquotas mais baixas podem passar a enfrentar uma carga tributária significativamente maior.

Atualmente, profissionais e empresas do setor de serviços — como consultorias, escritórios de advocacia, contabilidade, educação, saúde privada, entre outros — pagam tributos como ISS e PIS/Cofins com alíquotas efetivas entre 3% e 8%. Com a Reforma, essas alíquotas podem chegar a até 28%, dependendo da atividade, já que a nova sistemática prevê uma alíquota uniforme.

Esse aumento na carga tributária pode afetar as margens de lucro, especialmente em empresas com alta intensidade de mão de obra e poucos créditos a compensar. Além disso, há a possibilidade de impacto para o consumidor final, o que pode comprometer a demanda por certos serviços.

Apesar disso, a Reforma também traz simplificações que podem reduzir a burocracia e aumentar a previsibilidade tributária. Para alguns prestadores, especialmente os que vendem para empresas que se creditam do IBS/CBS, isso pode abrir oportunidades de ganho de escala e maior formalização.

A tendência, portanto, é que prestadores com maior estrutura e capacidade de adaptação consigam absorver melhor as mudanças, enquanto profissionais autônomos e pequenas empresas precisarão de uma atenção especial para avaliar seus modelos de negócio e, se necessário, reestruturar suas operações.

Setores dependentes de incentivos fiscais

Setores que historicamente se desenvolveram com base em incentivos fiscais devem enfrentar mudanças sensíveis com a Reforma Tributária.

A proposta de unificação de tributos federais e estaduais em um modelo mais padronizado (IBS e CBS) traz consigo a perspectiva de reduzir a autonomia dos entes federativos para conceder incentivos fiscais personalizados. Isso pode enfraquecer políticas de atração de investimentos regionais e afetar diretamente a viabilidade econômica de operações instaladas justamente por conta desses benefícios.

Empresas que hoje contam com isenções, reduções de base de cálculo ou créditos presumidos como parte de sua estratégia fiscal poderão sentir dificuldades diante da nova estrutura. A indústria automobilística, por exemplo, que possui fábricas em regiões como o Norte e Nordeste em função de incentivos, pode ver sua lógica de distribuição geográfica alterada com o fim dessas vantagens.

Da mesma forma, setores como o de tecnologia e logística — que muitas vezes dependem de regimes especiais ou benefícios do ICMS em centros de distribuição — terão que reavaliar seus modelos de operação, margens e investimentos.

Bebidas, cigarros e automóveis poluentes

O setor de bebidas alcoólicas, cigarros e automóveis poluentes será diretamente impactado pela criação do Imposto Seletivo (IS), que tem como objetivo principal desencorajar o consumo de bens e serviços prejudiciais à saúde ou ao meio ambiente, aplicando a carga tributária.

Essa tributação extra representa uma forma de desestimular o consumo desses itens, ao mesmo tempo em que busca alinhar o sistema tributário com princípios de responsabilidade social e ambiental. No entanto, para os produtores e distribuidores desses setores, o impacto será significativo. O aumento da carga tributária pode elevar os preços finais ao consumidor, reduzindo, assim, as margens de lucro, especialmente para produtos nacionais que concorrem com importados.

No caso das bebidas e dos cigarros, que já são altamente tributados, a nova incidência cria uma pressão fiscal para frear a informalidade e o contrabando. Já no setor automotivo, veículos com maior emissão de poluentes poderão ser onerados, forçando montadoras a investir em tecnologias mais limpas e eficientes, o que também exigirá tempo e capital.

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Agronegócio

Um dos principais pontos de atenção no agronegócio é o aumento expressivo da carga tributária. Atualmente, o produtor rural arca com uma alíquota média de 5%. Com a Reforma, esse percentual poderá subir para até 28%, impactando diretamente os custos de produção.

A proposta também prevê o fim de isenções históricas sobre insumos essenciais como sementes, adubos e farelos — itens essenciais que garantem a produtividade no campo — e uma lista reduzida de itens com alíquota zero que compõem a cesta básica.

Esse cenário tende a refletir nos preços praticados no mercado. Diante de custos mais altos, é provável que parte desse impacto seja repassada ao consumidor final, que terá de arcar com o aumento do preço dos alimentos e produtos agrícolas. Por se tratar de um país potencialmente desenvolvido pelo setor agropecuário, essas mudanças exigem uma resposta rápida e efetiva para que o agro não perca o seu protagonismo econômico

Empresas do Simples Nacional e MEIs

A proposta da Reforma mantém regimes como o Simples Nacional, mas traz também medidas que prejudicam esses empreendedores no novo cenário tributário. Uma das mudanças envolve a negociação entre empreendimentos e empresas do Simples, onde deixará de gerar créditos tributários, como acontece atualmente. Com isso, as empresas de maior porte tendem a reduzir o número de negócios com o Simples Nacional, buscando opções mais benéficas para si.

Aviação

O setor de aviação tende a ser um dos mais afetados com a Reforma Tributária. Um estudo encomendado pelo setor estima que, sem um regime tributário diferenciado, a carga fiscal das companhias aéreas subirá 315%, gerando um custo adicional de cerca de R$ 11 bilhões por ano — valor que tende a ser repassado aos passageiros, já afetados por tarifas historicamente altas.

Além disso, com a implementação do Imposto Seletivo (IS), o querosene de aviação, insumo essencial para o funcionamento dos veículos, tende a ser sobretaxado e, assim, causará um possível aumento na precificação dos serviços do setor.

Impactos para o consumidor

A Reforma Tributária marca uma mudança estrutural no modelo de arrecadação de impostos no Brasil, com o objetivo de simplificar o sistema e promover maior equilíbrio fiscal. Apesar de ter como foco principal as empresas, seus efeitos se estendem aos consumidores, que deverão perceber as mudanças de forma concreta nos preços de produtos e serviços do dia a dia.

Como a alíquota padrão do Imposto sobre Valor Agregado (IVA) pode chegar a 28%, setores que atualmente são menos tributados — como serviços, educação, saúde privada e alimentos industrializados — podem registrar aumento de preços, afetando diretamente o consumidor.

Por outro lado, a proposta prevê alíquotas reduzidas para itens essenciais, como medicamentos, transporte público, educação básica e produtos da cesta básica. Isso significa que, em algumas áreas do consumo diário, a população poderá sentir um alívio nos custos.

A transparência na cobrança de impostos é uma das principais propostas da Reforma. Os tributos passarão a ser destacados nas notas fiscais de forma mais clara, permitindo que o consumidor saiba exatamente quanto está pagando de imposto em cada compra.

Ainda que os benefícios mais concretos apareçam no médio e longo prazo, a expectativa é que, com a simplificação tributária, as empresas também tenham redução de custos operacionais, o que pode — em um cenário de competição saudável — gerar preços mais justos para os consumidores. No entanto, até que essa transição esteja concluída, será necessário acompanhar os ajustes de mercado e os reflexos no dia a dia de quem consome.

Exemplos práticos

🔷 Transporte público urbano

  • Antes da Reforma:
    A passagem de ônibus em São Paulo custa R$ 5,00. O setor de transportes já possui isenções ou alíquotas reduzidas em diversos municípios.
  • Após a Reforma:
    A Reforma mantém a isenção para o transporte coletivo urbano. Com isso, o preço tende a se manter estável — ou até cair, caso o repasse de tributos ao setor seja realmente zerado, beneficiando diretamente os usuários desse serviço.

🔷 Almoço em restaurante

  • Antes da Reforma:
    Uma refeição em restaurante custa R$ 40,00. A tributação envolve ICMS, ISS e PIS/Cofins, com carga média de 10% a 12%.
  • Após a Reforma:
    Com a aplicação da alíquota padrão de 28%, esse mesmo prato pode sofrer um aumento para cerca de R$ 45,00 a R$ 47,00. Com isso, o consumidor que almoça frequentemente em restaurantes será afetado. 

🔷 Supermercado (alimentos básicos x industrializados)

  • Antes da Reforma:
    Itens da cesta básica, como arroz e feijão, possuem isenções. Alimentos industrializados, como biscoitos e refrigerantes, pagam alíquotas variadas de ICMS e PIS/Cofins.
  • Após a Reforma:
    Produtos essenciais continuam com alíquota reduzida ou isenção. Já alimentos ultraprocessados podem ser impactados com alíquota cheia ou até Imposto Seletivo, o que deve impactar na precificação.

Como serão implementadas as mudanças da Reforma Tributária?

A transição ocorrerá gradualmente entre 2026 e 2033. Esse período é fundamental para que o mercado e as empresas se adaptem às novas regras com segurança e previsibilidade. A implementação acontecerá de forma escalonada, nas seguintes fases:

  • 2026 – Início da fase de testes (CBS 0,9% / IBS 0,1%)
  • 2027 – CBS entra oficialmente em vigor
  • 2029 – Início da substituição progressiva de ICMS e ISS
  • 2033 – Conclusão da transição para o novo modelo
Linha do tempo do período de transição da reforma tributária.

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